
Opressão, cobrança, hostilidade; alguns se adáptam a elas e vivem em plena harmonia saudando-as como mundo. Outros, mais sensíveis lutam contra, mesmo reconhecendo a impossiblidade de vencê-las, e sabendo que são o local onde irão perecer após o nascimento que muitas vezes, julgam até mesmo, injusto.
Timothy Treadwell, talvez não julgara seu nascimento injusto, embora a vida lhe parecesse. Um garoto como outro qualquer de sua idade, exceto pelo fato de carregar sempre aos braços, seu melhor amigo, seu urso de pelúcia. Amava-o tanto quanto sua própria existência. Timothy cresceu, se tornou um homem, tinha mulheres, tinha um emprego, só não tinha o que mais almejava, o poder de trazer à sua realidade social, a natureza.
Ecologista frustrado com o comportamento irreversívelmente cruel que projetara sobre os homens, decidiu abandonar tudo e se refugiar aonde sempre quisera, ao lado de seus companheiros, seus semelhantes, os ursos selvagens que habitavam o Alasca. Timothy passou treze verões de sua vida junto deles, incluindo o seu último. Fora às expedições armado apenas de uma camêra para documentar os dias que se seguiam em tensão para quem o esperava voltar e em realização plena de sua parte. Em seus registros é possível ver o carinho mesclado à insanidade que demonstrava para com aqueles seres irracionais à sua volta. Timothy só os queria proteger, e eles só enxergavam a invasão de espaço cometida por um ser demasiado diferente de sua espécie e natureza.
Em 2003, no fim de sua última expedição, o menino-homem, o homem-urso Timothy Tradwell foi devorado impiedosamente por um de seus chamados amigos fiéis. Restos de seu corpo foram encontrados juntos ao de sua namorada Amie Huguenard, pelo piloto que deveria trazê-los de volta.
Um caso, uma vida guardada em um documentário que expõe a história com um final trágico de quem buscava a compreensão, e libertação de amarras que o prendiam à sociedade na qual desistira de viver e passara a desprezar.
Ao adentrar no mundo natural de espécies distintas à nossa, todos os dialetos comportamentais são quebrados e o nosso Eu social de nada nos vale. Onde a natureza predomina, não há sociedade capaz de dialogar sobre respeito, deveres e leis. O controle de governo está totalmente entregue às mãos do puro insitinto.
Marina Ats
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